terça-feira, 4 de setembro de 2018

Mané Criatura e o Cadáver do Zé Alves

Continuando com a magia de Jaraguá - GO, aqui vão mais duas lendas que divertiram e assustaram muitas crianças (e adultos) nas rodas de conversas.  

 

                     Mané Criatura

(Cães de Caça ( Dog Soldiers / 2002

 Lá pelos anos de mil e oitocentos, na cidade de Jaraguá, existiam várias criaturas fantásticas, e uma delas era o Lobisomem! Hoje em dia, não é mais uma figura que as pessoas costumam acreditar, não se impressionam com o sobrenatural como antigamente, hoje querem explicações lógicas para tudo, mas será que há explicação para o "Mané Criatura"?

 Naquela época, acreditava-se que uma pessoa virava lobisomem se comesse carna na quarta e sexta-feira Santa e se fosse desonesta. As crianças muito arteiras também se tornavam um. Durante a transformação a pessoa crescia exageradamente, as orelhas se enchiam de pelos, os dentes caíam e nasciam outros (enormes e afiados). Era uma imagem assustadora e deformada. Tinha a cabeça desproporcional, sua aparência era de um lobo misturado com urso e homem.

Em Jaraguá havia um homem, o Mané Criatura, que acreditavam ser o lobisomem. Costumava sair à noute, "catando e comendo porcaria, cocô de galinha, essas coisas. No dia seguinte amanhecia amarelo, descontente e doente." - Segundo o relato de Cecília Pereira de Souza, no livro "Histórias Populares de Jaraguá" (1983).

Ela contou que um dia seu avô se reuniu com outras pessoas e decidiram pegar o tal lobisomem que estava aterrorizando a pequena cidade. Partiram atrás dele com um laço.

Ficaram de tocaia perto da casa do Mané, viram quando este saiu rumo ao Rio Vermelho e foram atrás. Chegando lá, relataram que ele arrancou toda a roupa e começou a crescer, crescer muito, atingindo seus dois metros e meio de altura. Gritava como se estivesse sentido uma dor terrível. A cabeça deformou, surgiram muitos pelos por todo corpo, os dentes caíram e no lugar surgiram presas, saliva e babava muito sangue. Se transformou num bicho, numa criatura de outro mundo, assustadora de gelar a espinha.

Morrendo de medo, o grupo de homens permaneceu escondido atrás de uma moita. Aproximaram-se durante o final de sua transformação e assim que surgiu uma oportunidade jogaram o laço.

O lobisomem foi arrastado com muita dificuldade. Ele urrava e rolava na poeira, e foi assim até chegar à casa do avô de Cecília onde havia um curral. Prenderam-no com correntes, porque o bicho era muito forte. Ele urrou durante toda a noite, os gritos apavoraram os vizinho que temiam sua fuga e fosse matar a todos,

No outro dia foram conferir como o tal lobisomem estava, e chegando lá não havia mais um bicho, mas sim o Mané Criatura. "Tava lá, nu e amarelo, estendido no chão". E dizem que desse dia em diante ele nunca mais virou o bicho.

O Mané Criatura é uma das lendas de Jaraguá que mais apavorava as crianças. É uma espécia de lobisomem com o Curupira (pois há relatos que ele tem os pés virados para trás). Aparece sempre na penumbra, anda pela cidade, pela serra e, algumas vezes, entra nas casas destrancadas. Quem viu, correu! Ninguém quer encontrar uma figura tão assustadora e esperar para ver o que acontece.




               O Cadáver de Zé Alves


Esta lenda assustou muitos moradores da cidade.

Naquela época não havia energia elétrica e fogão à gás. Era preciso buscar lenha pela cidade para que fosse possível cozinhar, esquentar água, etc. Um dia Baltazar, um dos moradores, chamou seu filho para irem atrás de lenha para que sua mulher pudesse acender o fogo no dia seguinte.
Começou a escurecer então pai e filho aceleraram o passo para voltar logo para casa. Cortaram caminho pelo lado do cemitério, e por ali encontraram bons pedaços de madeira. Baltazar muito animado resolveu ficar procurando por mais.
 Enquanto remexiam pelo mato atrás de mais lenha, Baltazar bateu sua mão em algo diferente de um pedaço de pau, deixou que a Lua iluminasse o local e aterrorizado percebeu que segurava o braço de um esqueleto. Deu um grito e o largou, seu filho veio correndo para saber o que tinha acontecido. Ficaram os dois lá, parados, não somente pelo susto, mas também por um fato curioso:
Era um esqueleto sequinho, sem nenhum pedaço da carne do defunto. O mato cresceu ao seu redor, mas por incrível que pareça, as roupas do morto estavam intactas, novinhas e preservadas.
Quando o susto deu uma amenizada, pai e  filho correram para casa. Chegando lá foram direto dormir, um pouco transtornados com o ocorrido. No dia seguinte, Baltazar foi à delegacia contar o que tinha visto. Os policiais foram até o local buscar a caveira para examiná-la. Chegaram à conclusão de que era o cadáver do “Zé Alves”.
Enterraram o corpo em uma das covas do cemitério, mas sempre no final da tarde e à noitinha, a caveira saía de sua sepultura. Toda vez que era enterrado, o esqueleto do Zé Alves, no dia seguinte estava fora da cova. Algumas pessoas que passavam pelo cemitério diziam escutar a voz de um homem chamando.
Não se sabe se conseguiram enterrar definitivamente o esqueleto no cemitério ou se o deixaram em paz para escolher seu lugar de repouso, mas o fato é que, enterrado ou não, muito dos moradores que passavam ao redor do cemitério escutavam uma voz de homem: “Saia, saia daqui! Esta terra é minha! Vai-te embora, preciso descansar”.
Zé Alves era um fazendeiro rico da cidade de Jaraguá (GO). O reconheceram pela gravata que o esqueleto estava usando, Era sua marca, ganhara de um amigo. Dizem que o fazendeiro era muito mal, vivia tomando terras dos outros por isso acredita-se que a terra não o quis. E é por isso que a caveira fugia, todas as noites, de sua sepultura, as terras sagradas não a aceitavam.